III Seminário Leituras Cariocas

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Publicado em 02/08/2022 - 17:23  |  Atualizado em 11/08/2022 - 17:06

 

O III Seminário Leituras Cariocas, sob a temática “Rio-Bicentenário: A história que a História não conta”, traz aos educadores novas formas de trabalhar a construção da identidade do povo brasileiro, potencializando as discussões que são levadas pelos professores para as salas de aula e que são fundamentais na formação dos alunos para que eles se reconheçam na sua própria história.

O evento acontece de forma presencial, na Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) e de forma remota com transmissão por streamyard (Webinários), de 10 a 12 de agosto, atingindo um público multiplicador de, aproximadamente, 1000 profissionais da rede municipal de ensino.

O Seminário conta com a participação de educadores, escritores, historiadores, cineastas, cine educadores, roteiristas, arte educadores, artistas. Também estão confirmadas as presenças de importantes nomes da literatura como Laurentino Gomes – pesquisador e escritor da trilogia Escravidão-; Lúcia Tucuju – escritora de representatividade indígena -; Ricardo Jaheem – escritor e educador-; Roberto Antunes – historiador -, entre outros.

Para acompanhar online, basta acessar o Canal da Sala de Leitura AQUI.

 

Confira fotos do Seminário e a entrevista com Laurentino Gomes:

A maioria dos alunos das Escolas Municipais são negros e vivem em comunidades. O que o senhor pensa sobre isso?

– Eu acho que existem muitos avanços, mas também muitas ameaças. Eu tenho insistido que por muitas décadas houve um projeto nacional de esquecimento da escravidão, de abandono da memória negra e africana. Isso se refletiu, por exemplo, nos livros didáticos. Não era um assunto em sala de aula. Até hoje o Brasil foi o maior território escravista da américa. Nunca se preocupou em fazer um grande museu nacional da escravidão e da cultura afro-brasileira. Tudo isso, no meu entender, é culpa do racismo, esse chamado racismo estrutural, que condenou a escravidão, mas também os seus descendentes ao esquecimento e ao abandono. Isso explica as dificuldades que a sociedade brasileira tem hoje, de desigualdade social, por exemplo. Agora tem avanços. Desde 2003, por exemplo, a história da África e a história da escravidão fazem parte dos currículos escolares. Eu tenho observado esforços muito bons em nível estadual e municipal em buscar um olhar diferente. Agora tem ameaças. No meu ponto de vista a maior ameaça está em Brasília: uma pororoca que tenta desfazer políticas públicas importantíssimas, como a lei de cotas, e voltar atrás. Eu acho que isso é um sistema de privilégios de distribuição de riquezas e de poder que tenta se perpetuar e que é o responsável por esse projeto nacional de esquecimento. Nós estamos assim, temos uma eleição pela frente e esse grande desafio vai ser decidido no voto, na democracia.

O material didático oferecido pela SME tem diversos representantes negros, como o Rene Silva, considerado um dos 100 homens negros mais influentes do mundo. Qual a sua opinião sobre a importância da representatividade nesses materiais distribuídos para as nossas crianças?

– Os grandes abolicionistas, como o Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco – eles defendiam duas abolições: uma era preciso parar de comprar e vender gente, o que o Brasil fez com a Lei Áurea em 1878, a segunda abolição era dar oportunidades aos ex-escravos e seus descendentes para se tornarem cidadãos brasileiros com plenos direitos e deveres, como moradia, educação, terras, riquezas. Isso o Brasil nunca fez e esse é um passivo que nos assombra hoje. E vai continuar nos assombrando no futuro. Eu acho que escravidão não é um assunto de livro de história, não é assunto de livro didático, não é apenas um desrespeito ao passado, mas um desrespeito ao futuro. Porque essa é uma tarefa urgente. Essa segunda abolição que nunca aconteceu. E ela vai se dar em todos os níveis. Ela vai dar em distribuição de oportunidades, nos melhores empregos, em atividades bem remuneradas, e representatividade. É preciso ter mais pessoas de descendência africana no Congresso, no Executivo, no Judiciário, mas também dentro das salas de aula. É na sala de aula que se cria a consciência de cidadania para resolver esse problema. No meu ponto de vista é a ferramenta mais fundamental para preparar essa segunda abolição.

Como conhecedor da cultura de diversos países, como explica um comparativo com as educações mundiais e a do Brasil?

– O Brasil deixa muito a desejar, e isso não é de hoje. É histórico. Quando a Corte chegou ao Brasil, 99% da população era analfabeta. Quando eu nasci, em 1956, era 50% da população analfabeta. Completa total falta de prioridade quanto à educação, que é um mecanismo muito bem-sucedido de dominação, de exploração, são grandes grupos sociais que ficam marginalizados, pois não tem sequer capacidade e preparo para um debate político e ajudar a construir politicamente o país. Mas vem melhorando, eu insisto nisso pois acho que a gente não deve ter um olhar excessivamente pessimista. É um resultado da democracia, um dos frutos da democracia. Essa discussão é muito importante a respeito do que entra e o que não entra nos livros didáticos, a liberdade que os professores têm que ter de expressar suas opiniões, e estimular o espírito crítico em sala de aula. Lá fora tem países que estão muito mais avançados não só nos livros de história, das chamadas ciências humanas, mas também em todos os aspectos, enquanto tem outros que estão muito mais aquém do que o necessário. Por isso acho que a gente deve equilibrar as expectativas e persistir na democracia. É na democracia que se resolve esse tipo de desafio inclusive na área de educação.

Qual a importância do ensino público e o que isso representa?

– O ensino público é fundamental e temos que defender a escola pública. Toda a minha formação foi feita em escola pública. Do ensino fundamental, básico, até o ensino superior. É o ensino público que garante hoje um acesso mais universal, com oportunidades para todos os brasileiros. Acho que não dá para delegar isso com o ensino da iniciativa privada, que é bem-vindo, é importante, mas não resolve sozinho. É a escola pública que vai realmente universalizar as oportunidades de acesso e inclusive democratizar do ponto de vista racial, que é um desafio enorme.

 

Fotos Ana Clara Schwartz


 


 


 

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